Em meio à vastidão de florestas, mangues e reservas ambientais que compõem o mapa da Paraíba, um dado chama atenção e revela um Brasil profundo, quase invisível: milhares de pessoas vivem dentro de unidades de conservação espalhadas pelo estado. A coexistência entre preservação ambiental e ocupações humanas se dá em um território permeado por tensões sociais, ausência do Estado e uma luta cotidiana pela sobrevivência.
Ao todo, quase 33 mil paraibanos habitam áreas oficialmente protegidas por leis ambientais. São comunidades que nasceram, cresceram e se mantêm vivas dentro de reservas que, em tese, deveriam ser espaços intocados ou com uso altamente controlado. A maioria dessas populações se encontra em áreas de proteção ambiental (APAs), onde a presença humana é permitida desde que obedeça a normas de sustentabilidade. Ainda assim, muitos vivem em condições precárias, sem acesso pleno a serviços básicos como água potável, saneamento ou atendimento de saúde.
Esses núcleos populacionais, muitas vezes compostos por agricultores familiares, pescadores artesanais, indígenas e remanescentes de quilombos, enfrentam o desafio diário de equilibrar sua permanência no território com as exigências ambientais impostas por órgãos fiscalizadores. Para muitos, deixar essas áreas significaria romper com raízes culturais profundas e com modos de vida passados de geração em geração.
A presença dessas populações escancara também a negligência histórica com a regularização fundiária e a demarcação de terras tradicionais. Em boa parte dos casos, a ocupação dessas áreas antecede a criação das próprias unidades de conservação. O conflito, portanto, não é apenas ambiental — é também jurídico, social e, sobretudo, humano.
De outro lado, especialistas alertam para a importância da gestão integrada desses territórios, que deve envolver tanto a preservação do meio ambiente quanto a garantia de direitos às populações que ali vivem. Há um consenso crescente entre estudiosos e ativistas de que a proteção ambiental não deve ser vista como inimiga da justiça social, mas sim como sua aliada.
A situação da Paraíba reflete uma realidade nacional: o Brasil é um dos países com maior biodiversidade do mundo, mas também abriga milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade nas franjas ou no interior de áreas protegidas. O desafio é construir políticas públicas que não apenas reconheçam essas comunidades, mas que as envolvam como protagonistas na preservação de seus próprios territórios.
É nas trilhas escondidas entre o verde denso e os caminhos de barro que pulsa uma das faces menos visíveis do Brasil. Um país que insiste em viver, resistir e coexistir — mesmo quando o mapa oficial parece não reconhecê-lo.